Família Completa

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Familia em 27 de dezembro de 2009

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segunda-feira, 5 de abril de 2010

POUSO NO ESCURO

POUSO NO ESCURO

Avenor Augusto Montandon

Decolei no meu Kit Fox de Araxá para Belo Horizonte numa linda manhã de sol de outono. Nessa época, aqui na nossa região, os dias são ensolarados e raramente chove.
Tinha sido convidado pelo Cesar, amigo e colega, deputado da Assembléia, para uma palestra que faria na comissão de saúde daquela casa. A palestra estava programada para 11 horas e eu deveria chegar ao aeroporto Carlos Prates no máximo às 10 horas. Embora lento, desenvolvendo em média 130 km por hora de velocidade de cruzeiro, eu tinha a previsão de chegar às 9 horas. Encarei um vento de proa de uns 10 km por hora, o que me atrasou bastante. Pousei às 09h30min.
Estacionei no pátio próximo ao aeroclube, e rapidamente fui conduzido à Assembléia no centro de BH, por um motorista incumbido de me apanhar. O trânsito estava péssimo e chegamos em cima da hora marcada. Muitos representantes do povo me receberam com muita cordialidade, demonstrando expectativa pelo que eu ia apresentar.
Desincumbi-me da tarefa em pouco mais de uma hora. O Cesar me convidou para almoçar em seguida, por volta de meio dia e meia. Alertei que teria que voltar ainda naquela tarde, e para isso teria que estar decolando no máximo às 14h30min, portanto o nosso almoço teria que ser bem rápido.
- Não se preocupe, disse ele. Não vamos demorar. Vamos almoçar aqui mesmo no restaurante da Assembléia. Jogo rápido! A prosa estava boa demais e quando dei por mim já era quase 14:00 horas!
- Cesar, preciso ir agora. Desculpe-me, mas tenho pouco tempo para decolar, sob pena de não conseguir chegar antes do por do sol!
Pedi ao motorista que não perdesse tempo, me deixasse no Carlos Prates o quanto antes. A despeito da sua boa vontade, o trânsito não ajudou. Era mais de três horas da tarde quando chegamos ao aeroporto.
Pelos meus cálculos, sem nenhuma intercorrência, chegaria a Araxá às 17:50, dez minutos antes do por do sol. A inconseqüência estava presente na minha decisão. Confesso que hoje eu não me aventuraria, burlando uma regra básica de segurança que prevê tempo suficiente para voar o trecho, mais o tempo necessário para voar ate a alternativa e mais 45 minutos de lambuja para o pôr do sol!
Era uma tarde linda. Dessas que nos incentiva a decolar. Dá-nos muita confiança e o horizonte nos chama para esse encontro com o deleite de voar.
Nós os pilotos somos atraídos para o vôo como os marinheiros são para o canto da sereia. É uma compulsão. Quando planejamos fazer um vôo a determinado lugar, temos duas ansiedades: decolar para ir e decolar para voltar. Muitos de nós, levados por essa ansiedade corremos risco e tantos perderam a vida!
Decolei. O GPS me estimou a chegada antes do pôr do sol, conforme tinha calculado. Um ventinho de cauda ainda estava ajudando.
Quando cruzava mais ou menos no través de Bom Despacho constatei um paredão preto na minha proa, um magnífico CB. Como minha autonomia e meu tempo eram curtos, optei por contornar a nuvem pela direita. Isso me afastou cerca de 30 km da minha proa.
Quando tentei retomá-la, livrando a nuvem á minha esquerda, fui surpreendido por uma ascendente, me sugando para cima a mais de 1500 pés por minuto. Tive que mergulhar o avião acelerando na vertical para neutralizar a ascensão. Recuperei o vôo reto horizontal a menos de 1000 pés na vertical de Dores do Indaiá.
Vencida essa difícil etapa, retomei meu rumo. Faltavam ainda cerca de 90 km para Araxá. Refiz meus cálculos e constatei preocupado que não chegaria antes do anoitecer.
As minhas alternativas estavam inviabilizadas pelo CB que se alargara por todos os lados, felizmente me livrando a proa. Vi as luzes da minha cidade mais de 20 minutos depois de o sol desaparecer no horizonte. Como não tinha iluminação de instrumentos ou de cabine, usei a chave do meu carro que acendia uma luzinha á compressão de um pequeno botão. Com isso consegui ver os instrumentos quando me aproximava na escuridão do aeroporto da cidade. Só pude saber que estava cruzando a pista porque o GPS me avisou.
Identifiquei pelas luzes, duas referências inconfundíveis nas proximidades da cabeceira 15: O restaurante Samburá à direita e o Clube Girassol á esquerda da cabeceira da pista. Estava muito acostumado a pousar na 15 e esses pontos me eram muito familiares e me serviram sempre nas aproximações para pouso. Me assustava muito a situação crítica da minha autonomia de vôo. Os dois tanques estavam no vermelho da reserva! Tinha que pousar. Liguei para um amigo e pedi que acendesse as luzes do hangar do aeroclube, que seria mais uma referência, fiz uma aproximação padrão com uma final longa usando as referências citadas. Pela minha experiência eu sabia que estava no alinhamento. Mantive uma altura maior que a habitual contando com a segurança dos quase 2 km de pista. Convoquei o meu anjo da guarda, que fica quase o tempo todo de plantão, e fui reduzindo o motor, mantendo o vôo em velocidade segura. Quando estava por tocar a pista, confirmei meu correto alinhamento, pois a minha visão periférica, ressaltada com o tempo de escuridão, me mostrou o contraste da linha branca no centro da pista. Estava exatamente no meio! Logo toquei o chão e embora não fosse um arredondamento perfeito, o pouso não foi dos piores. Tive então que aguardar que viessem de carro á pista para me guiar até o hangar.
Assim, dei por finda uma aventura que tinha tudo para acabar em tragédia.
Felizmente, mais uma vez ileso, vivi para contar esta e outras historias.

Um comentário:

  1. Parabèns nota 1000,sou sua fan numero um . Vc è meu mèdico e sempre sera è uma pessoa que me orgulho e estimo muito ,saudades e saudades de sua paciente .Diana Nascimento.

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