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Familia em 27 de dezembro de 2009

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segunda-feira, 5 de abril de 2010

CIRURGIA ORIFICIAL DE CORTESIA

CIRURGIA ORIFICIAL DE CORTESIA


Avenor Augusto Montandon


O Dr. César e o Dr. Pessoa eram bons amigos e trabalhavam juntos no mesmo hospital na pequena e pouco pacata cidade do interior das Minas Gerais. A paz ali era uma situação ocasional, freqüentemente comprometida com as rixas existentes entre famílias tradicionais na região. Não raro havia tiroteios o que a fazia cognominar-se Confusão. O Hospital dirigido pelo Dr. Pessoa era bem equipado e organizado. Atendia não só a população local como de toda a região que para lá convergia pela boa fama de seus médicos treinados na cirurgia de trauma, fruto da tradicional hostilidade existente.
O Dr. César e o Dr. Pessoa auxiliavam-se mutuamente nas cirurgias. Somavam suas experiências e os resultados faziam prosperar suas famas. Ambos eram também fazendeiros prósperos, criavam gado leiteiro e engordavam bois de qualidade nos verdes e vastos campos que circundavam a cidade.
Um belo dia, compradores de gado do norte de São Paulo chegaram na cidade a convite do Dr. Pessoa para ver um gado seu, gordo e saudável, que pretendia negociar. Tinham pressa. Não podiam demorar pois tinham muitos outros compromissos agendados em outras localidades não muito perto dali, cujas distâncias teriam que ser vencidas em precárias estradas de terra.
Dr. Pessoa foi avisado das presenças quando se preparava para uma cirurgia previamente marcada, em paciente amiga da família, que já estava preparada e pronta com pré-anestésico. Tomado de ansiedade sentiu-se na obrigação de atender os visitantes sem trazer prejuízo à cirurgia por iniciar. Nisso chegou o Dr. César, simpático e boa praça, com cara de muitos amigos, pronto para assumir o auxílio de praxe ao Dr. Pessoa.
-César! Que bom que chegou! - disse o Dr. Pessoa – Estou com um compromisso urgente e inadiável e queria que me fizesse um grande favor. Tenho a cirurgia da D. Elza que já desceu para o Centro Cirúrgico e gostaria que a fizesse por mim. Peça ao Dr. João para te ajudar.
-Que cirurgia, Pessoa?
Dr. Pessoa titubeou na resposta. Momentaneamente a memória lhe falhou. Eram vários pacientes agendados e a sua ansiedade não contribuía para a lucidez necessária...
-Hemorróidas?...
-Isso, hemorróidas – respondeu sem pestanejar – faça para mim!
-Deixa comigo, Pessoa. – respondeu Dr. César – Pode ir para o seu encontro.
-Obrigado César. Quando precisar, conte comigo!
O Dr. César chegou ao Centro Cirúrgico e já encontrou a paciente na posição ginecológica. Tomou as providências pré-operatórias imediatas e não obstante constatar a irrelevância da patologia orificial, executou rápida e prontamente a cirurgia com a destreza que lhe era peculiar.
À noite, passando a visita de cortesia aos pacientes operados no dia, Dr. César encontrou a D. Elza apreensiva. Julgou ser normal o descontentamento por ser uma cirurgia dolorosa no pós-operatório imediato. Explicou que fizera a cirurgia a pedido do Dr. Pessoa que ficara impedido de fazê-la e esperava que não se importasse com esse fato.
-De modo algum, Dr. César. Confio muito no senhor que já operou várias pessoas da minha família, mas, eu só tenho uma dúvida.
-Pois não!
-Não sabia que se operava períneo por esse buraco!!!...

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